Manhãs monárquicas e sua trilha sonora

Das Candongas
4 min readOct 12, 2021

A eterna luta da trilha sonora para a rotina, e outros assuntos.

Então tá, vamos começar à lá Oswaldo Montenegro compondo uma lista de g̶r̶a̶n̶d̶e̶s̶ ̶a̶m̶i̶g̶o̶s tarefas necessárias no dia a dia. Iniciar talvez com aquele café que aromatiza bem com a preguiça das 06h? Quem sabe com o fatigado boa noite dirigido aos instrutores — hediondamente animados — da sua academia de bairro?! De resto, vou participar do exercício para não soar tirano, porém a minha é composta com todas as tarefas iniciadas e finalizadas (algumas) no dia de hoje (12/10/2021).

Começando às 08h, no trono, com o estômago ludibriado pelos sólidos e líquidos ingeridos na noite anterior (gasosos inacabáveis, afinal, fumaça é gasoso, não?!). Sim, meu estado na dita manhã coincide legal com o nome da minha rua: Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança. Um monarca, afinal — e uma triste coincidência.

Após o fim de um banho ciclópico, e o corpo besuntado de óleo com cheiro de domingo (okay, falemos disso num próximo encontro), parti para a cozinha preparar um café da manhã (com o torrete de invejar Tim Maia em brasa). Missão da manhã: omelete com tomate cereja e parmesão ralado, fatias de pão artesanal ressuscitado no forninho e bolo de fubá desenformado na hora. Dia de Nossa Senhora em casa é sagrado e às favas com estômago baleado, certo?

Dando um salto olímpico, pulemos para às 14h, horário oficial de dirigir-me ao destino do convite da feijoada — recebido ainda àquela manhã. Não se recusa almoço, ainda mais o tipo de almoço ofertado, ainda mais por ser em casa de amigo com a família do dito reunida. Torresminho, arroz branco bem soltinho, uma couve levemente assustada com azeite, farofa com anéis de cebola milimétricamente fatiadas e a própria miscelânea de feijão escuro e carnes (linguiças, bacon, costelinha, carne seca e pé, este injustamente tirado das “feijoadas light”. Valei-me, senhor). Para rebater a tristeza e o movimento destrambelhado do meu corpo lutando inutilmente pela digestão, uns quaisquer vinte minutos no sofá, mirando com o olhar o filme do ogro verde transmitido na emissora você sabe bem qual, e sendo mirado pelo olhar piedoso da golden, pertencida a família em questão.

Volta para casa, sendo escoltado pelos últimos deveres do dia: lavar a casa e a louça (a última devidamente amontoada e castigada). Mas antes, por que não gastar meia horinha no medium, gastando um pouco de teclado? E agora, mais uma tarefa é incutida em minha agenda: Caçar um assunto que valesse os caracteres oferecidos. Já sei! Tá fácil.

Um fato que não adentrei, foi que durante o meu momento de autoridade monarca exercida pela manhã, aproveitei para acompanhar as já tradicionais lives feita por um dos três homens da minha vida: Ed Motta. Sim, o próprio. 09H da manhã e ele já atacando algoritmos e códigos com suas playlists que não exigem nenhum tipo de elogio, mas sim que apenas pedem o favor de serem devidamente degustadas com meticulosidade e peito aberto. Eis que, em alguns minutos de live, um tema se inicia com o contrabaixo criando uma cama brilhante em conjunto do prato de condução e bumbo marcando a cabeça das notas, criando a sintonia perfeita para a introdução da cortante flauta de Simeon Štěrev, invejável com suas lufadas de ar automaticamente traduzidas para dó. ré, mi, lá e etc.

Como faço de costume durante lives de músicos que se propõe gentilmente a compartilhar dicas de algumas pepitas, os botões dos prints segue atentos. E aí sou agraciado com o print da capa do disco. Uma rapazeada gente boa, estirados sobre uma verde grama sem muita pose, e uma clara despreocupação sob a estética visual. Aquela coisa de disco pronto, show feito, bate uma chapa aí Cidinho. Cidinho com certeza não desempenha um bom papel aqui, já que não deve ser um nome muito utilizado no país de origem da obra. Este? Oh sim, Checoslováquia.

Lá vai para você anotar: Václav Zahradník A Hosté Jazzového Festivalu Praha 1970. Ou joga “Interjazz Václav” no Google e você será direcionado para este deleite sonoro. Uma abundância de trompetes, tubas, flautas e saxofones que, ao serem postas a prova juntos, transbordam sincronia e entrosamento. Coisa linda de ouvir. E todo esse time sendo acompanhado por poderosos golpes de percussão da bateria de Andrzej Dabrowski, jornalista, fotógrafo e já obvio, músico.

Típico disco para qualquer hora do dia. Do cafézinho matutino, ao treino de aeróbico (ou ferro, por que não?) noturno. Combina tanto com a preparação das iguarias de um almoço de domingo, tanto quanto a digestão do já mencionado. Trilha sonora para iniciar o dia? Pode ir sem erro. Trilha sonora para embalar o sono? Vai também, tem ótimas músicas para isso. Se ajusta perfeitamente com o tempo que você gasta no traslado até sua casa, seja de carro ou mercedez democrático. Até para aquele texto escrito em seu Medium, que encerra o feriado de forma mais digna. Aposto que a sua lista, feita no começo desta conversa escrita, será bem acompanhada — auditivamente falando.

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